As feridas narcísicas e o "Eu é um outro"......


Há três grandes feridas narcísicas na história do homem : a) o Heliocentrismo de Copérnico que desmonta a ideia que a Terra é o centro do mundo; b) a seleção natural de Darwin que esclarece que vivemos sob as mesmas leis das espécies da natureza e portanto não somos “animais superiores”;
e c) o Freudismo que aponta que a conduta humana não é toda consciente. O “inconsciente pensa” e talvez não nos conhecemos tanto assim.
Nessa linha, diria que há uma quarta ferida que é nossa ideia de “Eu”, essa ideia de uma individualidade como redoma num contexto inocente e pretensioso de autonomia de escolhas e atos.
Gosto das palavras do poeta francês Arthur Rimbaud "Eu é um outro", que  pressupõe que a noção "do Eu” vem dos processos de socialização, identidades culturais assimiladas e da projeção de esquemas mentais no mundo.
Nesse sentido, o “Eu” percebido derivaria da imagem do outro, e a sentença que "o desejo do homem é o desejo do outro" escancararia a articulação de minha (con)formação ao mundo social.  Portanto, somente a partir de um processo de crítica desse “eu alienado”, desse “Eu é um outro” que faço escutar  no interior do "si mesmo" (que não é esse Eu), uma certa essência reprimida de mim:
demandas e desejos, às vezes não nomeáveis, e etc, etc e etc.  
Por luz na discordância entre o Eu e esse "si mesmo" é um caminho esclarecedor e o único que permite tratar das cicatrizes, na medida em que toda sintomatologia negativa moderna (ansiedade, fobias. depressão, neuroses, pânico, etc) aparecerá como déficit de reconhecimento.

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