Ansiedade, um déficit de vida.....
Um dos traços marcantes do nosso tempo é a ferocidade do tempo; temos a sensação que tudo passa velozmente num fluxo automático e efêmero. Seja pela abundância tecnológica que nos serve, mas que também nos impõe irreflexão, seja pelo excesso do que fazer, nem mesmo o tédio parece ter chance de existir em tempos atuais.
Suponho que a decorrência desse processo seja a forma como registramos os momentos.
Como ex-fumante gosto de usar a metáfora do cigarro. Existem os "bons cigarros", aqueles raros e ceivados de contemplação, e quase todos os outros, automáticos, imemoriáveis, úteis apenas pra evitar o desprazer de ficar sem o cigarro. É dessa forma que tratamos os eventos da vida!
Toda a ansiedade liberada desse modelo; o anseio por tudo, a super incitação desumana frente a toda uma ordem de possibilidades e de demandas; sucesso profissional, afetivo, familiar, físico, lazer, etc, acarreta algo muito pernicioso no campo dos afetos: a dificuldades de registrar os momentos. E se você não grava em sua narrativa interna os momentos da vida, se não consegue nomeá-los, datá-los, etc; há algo inexorável em curso: um déficit de vida!
O Observador de nuvens.
ResponderExcluir“ 'Horizonte: des-vendável' diz o mercador”
Murilo Mendes
Num clique tudo
se desarvora todo arranjo de flores
e dignidades digitais tudo se descompreende
numa esquizofrenia de pixels, tudo
e esse tudo é um encontro fortuito
que descarrilhou uma valsa que estourou
um beijo invertendo-se em estio, tudo
num piscar de olhos transmuta rápido
demais o sequestro das entrelinhas
do horror das sombras no quarto (exclui-se o quarto)
do inseto desconhecido na tarde de sábado
tudo, pois o estudo da lágrima está falido
o eterno ladrão no quintal o bandido
solto pelo seu corpo o blues em goles
lentos de nostalgia ferida falida falido
nada
agora
é mais unânime que o fuzilamento
Acho que o meu poema acima se liga de certa forma a seu belo texto....
ResponderExcluirFantástico poema, Marcelão!
ResponderExcluirmaneiro o texto, externa uma realidade da qual fazemos de conta que não existe mas somos super apegados a ela.
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