Angústia, uma querida amiga.....


A clínica da psicanálise é subversiva porque escuta o sujeito em sua singularidade radical.  Ou seja, cada um a seu modo fabrica angústias, sintomas e fantasias. Foi Freud que colocou os sintomas em um lugar privilegiado, os elaborando como soluções a partir da angústia. Porque ela é causa, e não efeito. Dito mais radicalmente: os sintomas servem para nos proteger do desejo!  Lacan posteriormente vai dizer que a angústia é o afeto mais verdadeiro no famoso seminário X.  Porque se o desejo pede que o neurótico se engaje na realidade, a angústia expressa conflito e o freio sintomático para ocultá-lo. Em boa metáfora, a angustia é a bussola do desejo!  Essa inversão é genial porque permite escutar que o neurótico não teme fracassar diante do que se quer. Ele cria estratégias para não reconhece-lo e inviabilizá-lo.  Por isso a angústia não mente! Porque avisa que a fantasia neurótica (janela particular como cada um vê o mundo) caducou e está fraturada. A fixidez da fantasia gera perda de consistência do eu e cria possibilidade de se singularizar o desejo pela fala. De sair da opressão fantasmática de se colocar como objeto total  de satisfação ao outro (impossível), para aceitar uma posição que implique ações sem garantias. E abdicar da certeza pode transformar uma angustia  paralisante em uma tomada de ação para "fantasiar-se" em outro lugar. Ou seja, a mesma angústia que leva o neurótico à farmácia atrás do ansiolítico é a que pode levá-lo a uma análise para lidar com a verdade do seu desejo. Por isso, quando a angústia aparecer convide-a para um café e a trate bem, porque ela pode ser breve.  E saiba que ela só sai do corpo pela boca !

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