A boca de jacaré


Lacan tem uma passagem genial ao metaforizar o amor materno direcionado ao filho. É como a boca de um jacaré que quer devorar e integrar o bebê ao próprio corpo.  E a função paterna, nesse exemplo, serviria como a entrada de um terceiro que coloca um pedaço de pau na boca do jacaré impedindo o banquete materno. A fusão integrativa e fantasmática entre bebê e mamãe, dessa forma, se dissiparia dando um contorno menos tóxico na relação, para que o trabalho da mãe seja o de acolher, proteger, educar, mas também o de oferecer sua ausência para que outros possam surgir no mundo da criança. Ou seja, a mãe teria o papel de capturar o filho na linguagem para que ele possa se desenvolver como ser desejante que depende dos seus cuidados, mas não é o centro do mundo. Portanto é valiosíssima essa passagem em Lacan, porque nos dá a medida que entre a falta e a falta da falta, a segunda é mais devastadora. E excesso de presença, como também o excesso de ausência, dificultam a constituição do sujeito.

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