O trauma é sempre sexual...

O bebê humano nasce no caos!  Ele rompe a paz do ventre para aterrissar num mundo cujos estímulos externos são insuportáveis e, sobretudo, sem repertório para lidar com esse novo ecossistema. E por isso nasce 100% dependente e seguirá assim por muito tempo como em nenhuma outra espécie! O “Eu” é construído pacientemente com o auxílio de tradutores que inoculam nas crianças uma rede simbólica para entender seu mundo particular. Muitas experiências corpóreas, portanto, somente serão significadas quando uma tessitura narcísica estiver instalada a partir do campo da linguagem. E, nesse sentido, a entrada no mundo civilizatório requer recalcar pulsões atacantes incompatíveis com o projeto humano da cultura. Ou seja, o “Eu” é um contra-investimento para dar algum destino às excitações violentas que tentam despedaçá-lo (pulsão de morte).  E esse processo é inexoravelmente traumático. Porque o as experiências no corpo infantil ainda não traduzidas perturbam a  frágil membrana egóica em construção. Por isso a hipótese Freudiana que o trauma é sempre sexual. Porque o campo sexual também é inoculado pelos adultos em um tempo em que essa rede simbólica ainda não está totalmente instalada. E às vezes de forma rápida demais, violenta demais, abusiva demais, invasiva demais.  Sem a paciência e o acolhimento que o processo civilizatório recalcante exige.  Ou seja, é como se experiências e incógnitas fossem lançadas sem reportório para responde-las.  Questão clínica importante: por isso um novo trauma terá menos relação com o evento vivido no presente e mais com o trauma passado. A recente pandemia é um bom exemplo. Por que uns se adaptaram relativamente bem e outros colapsaram? Por que uns se petrificam em pânico depois de um assalto violento e outros seguem a vida? Por que a perda de um grande amor cria cicatrizes com profundidade diferente a todos? Porque os eventos traumáticos do presente perfuram o tecido egóico construído a duras penas no passado que garantia algum equilíbrio narcísico. E cada um de sua forma e a partir de sua história! E precisarão ser reconstruídas com novas elaborações que remetem a experiências mal traduzidas.    

Comentários

Postar um comentário