O que você quer de mim?


Para existirmos, nascemos no campo do desejo do outro. Ganhamos uma história prévia, um nome, uma expectativa, e um projeto de vida. Tão simples assim: só existimos a partir do outro! “É como desejo do Outro que o desejo do homem ganha forma”, disse Lacan em 1960. A pergunta “o que você quer de mim?” que convoca na relação com o outro é, paradoxalmente, a força constituinte (para construir o Eu dá muito trabalho!!), e a capsula protetora para não ser devorado. Nas palavras de Lacan “Por meio dessa pergunta endereçada ao Outro, o sujeito procura certificar-se da existência de um sentido derradeiro naquilo que comparece em sua experiência”. Ou seja, alucinar “o que querem de mim?” é o estatuto que separa e empreende o Eu (narcisismo), mas ironicamente também será o fantasma a ser atravessado. Porque tal posição aprisiona o sujeito em uma fantasia muito rígida de si. Primeiro porque é impossível capturar a demanda do outro pela linguagem (que falha!), no que é inapreensível. E desejar o desejo do outro servindo-o para completa-lo como objeto único também é da ordem do impossível. E basicamente essa é a encrenca neurótica! E qual a solução? Elaborar em análise para “cair” dessa posição e poder ser um menu de “outros objetos” nos vínculos sociais, assumindo riscos que valem bons propósitos de vida.



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