O olhar demorado sempre enxerga mais…


Admiração não é laço! Em tempos de redes sociais, confunde-se facilmente a exibição de predicados, o famoso “caça likes”, com a construção de vínculos. Tal ambiente também interfere na vida real porque permite inflacionar as imagens idealizadas de si, no tempo em que chegam notícias de uma fragilidade coletiva atual: a busca incessante de aprovação do outro! Em termos psicanalíticos, é o imagético tentando driblar o real – o que é insustentável.  Isso porque desejar o outro dá trabalho, e para criar laços é necessário sustentar uma posição mais paciente no encontro com o outro. Porque só lidando com o “estranho” do outro que é possível lidar com o estranho em nós! É possível usar a seguinte metáfora: em uma exposição encontramos um quadro lindo, extasiante e perturbador. Ao continuar por horas olhando-o fixamente será possível perceber pequenos defeitos, fissuras, desbotamento, etc. O que era deslumbramento vira intimidade, constância, permanência, saturação..... Um encantamento menos apaixonado, e, paradoxalmente, mais perene!


Quadro: o Jardim das Delícias Terrenas, de Hieronymus Bosch

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