Transtornos narcísicos pós-modernos - entre o abacaxi e a geleia.

Obviamente, a sociedade de consumo produz consumidores. Se não ela acaba! Produz sujeitos que invistam, consciente e inconscientemente, libido, auto-imagem e prestígio na posse e na exibição de determinados objetos. A tal sociedade do espetáculo! Lacan nos lembrou que esse sistema impõe um imperativo de gozo: “eu tenho que ter muito prazer!”,  que se desobedecido vira anormalidade, fracasso e impotência. Clinicamente esse processo cria dois tipos de transtornos narcísicos. No primeiro caso a angústia de ser invadido pelo outro é tamanha, que o indivíduo cria uma camada defensiva que age como uma casca de abacaxi para proteger um núcleo narcísico frágil. Geralmente são sujeitos que só pensam em si, se interessam pouco por algo ou alguém, e é sempre um desafio criar na clínica uma transferência aproveitável pelo medo do contato e desses sujeitos se abrirem. O segundo é o inverso, há também um núcleo frágil, mas uma demanda infernal de aprovação e aporte do outro!. Ou seja, ao invés do sujeito estar em uma redoma, a superfície psíquica é mole como uma geleia, e o resultado é uma necessidade constante que um recipiente (o outro) esteja presente para evitar que ele se esparrame, o que pode ser um parceiro(a), um animal ou um político de estimação, um ideal e etc. que sirvam de suporte a essa identidade frágil. Portanto, o paradoxo da sociedade de consumo é que ela exige a formação de egos fortes e sólidos e nesse mesmo movimento de exigência produz narcisismos débeis.  

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