O nada, o vazio e o desejo....




Tarefa importante em tentar circular a psicanálise com "menos pompa" (erudição que não serve para nada!) é buscar bons exemplos e boas metáforas. Desde que nascemos e nos constituímos nosso psiquismo dispõe de fantasias e atividades reparadoras para enfrentar a angústia que decorre da inexorável fragilidade humana.
Nos primórdios do "Eu" vive-se o "vazio original" ocorrido da muito marcada relação de corpo bebê-mamãe. Ou seja, o processo de separação contido nessa equação: "mãe e bebê não são a mesma coisa!" impulsiona as primeiras "fantasias" para dar conta de objetos imaginariamente perdidos.  O seio protetor cheio de leite que não comparece quando requisitado será "alucinado" por um dedo, e, ao passar do tempo,  outras importantes faltas serão substituídas por novos objetos exatamente dentro dessa dinâmica: eu não posso tudo /eu preciso do outro /o outro nem tudo me dá. Para simplificar 1+ 1 nunca será = 1. E importante marcar que o "vazio", palavra de cunho pejorativo, já é carregada de sentido porque, primeiro está em algum lugar, seja no espaço da separação de corpos, seja no buraco que indica que há uma falta e, por isso, é preciso mover o desejo para preenchê-lo.  Portanto, o nada é diferente de vazio. Porque depois do nada há, em um exemplo bem prosaico, um copo vazio. Mas é preciso muito trabalho constitucional para virarmos o "Eu Copo", com limites, experiências, histórias, palavras (linguagem), traumas, separações e, sobretudo, um vazio, e muitas faltas. Ou seja, o desejo de ter "água no copo" é o trabalho que o Neurótico faz para reconhecer que a falta pode ser simbolizada numa atitude desejante, e é o desejo que gera movimento, afinal, o que preciso fazer para colocar água no copo? E outros movimentos serão evocados, porque se não houver água, outros conteúdos precisarão ser "trabalhados" numa dinâmica inesgotável, porque a única certeza é que a sede nunca acabará. A não ser que não haja mais vida!


Quem tiver mais curiosidade sobre o tema, indico o artigo O espaço vazio, de Melane Klein que discute a dissolução da angústia no caso de Ruth Kajär.

"Seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta já passou por ele antes de mim." (Freud)

Comentários

  1. Uso muito esta frase de Freud. Bom texto Humberto,e uma excelente reflexão.

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