As grandes decisões da vida.....




Certa vez um jovem procurou Freud com uma angustiante dúvida: seguir sua carreira na psicanálise, permanecendo em Viena para se especializar, ou voltar para sua cidade no interior da Itália, casar, ter filhos, etc. Disse, Freud, o me parece brilhante para sublinhar o que é o inconsciente: "Para as questões banais do cotidiano, como por exemplo, para onde viajar nas férias, o que comer no jantar e etc., avalie os prós e contras, e toma melhor decisão lógica e consciente. Mas para as questões fundamentais da vida deixe a decisão livre ao inconsciente, porque a melhor decisão é a que vem do "outro em você" (inconsciente), e não a do eu (ego) marcado de defesas e obstáculos impostas por suas instâncias julgadoras (super eu)". E, mais, assinaria embaixo que se não dermos ouvidos a esse "outro em nós", a decisão será necessariamente equivocada ou, no mínimo, cobrará enorme preço psíquico de não ter feito "aquilo". Ai que está! O inconsciente raciocina pelas nossas costas, e por isso fazemos análise. Porque uma boa trajetória analítica serve para se apropriar dessa lógica e evitar ser ingênuo em relação às nossas escolhas. E quando você começa a se tornar responsável pelas escolhas que você fez e, principalmente, pelas que não sabe que fez, deixa de ser o inocente diante das consequências e tem condições de inventar algo a partir disso. Poderia resumir a neurose como uma forma de sempre "fracassar do mesma jeito e da mesma maneira.". E poder patinar de outras maneiras é um tremendo avanço pro psiquismo. Quando você incorpora sua divisão subjetiva, e percebe a lógica dessa constância (desejo inconsciente), e sabe se reconhecer como produto dos seus atos, não precisa mais de analista. Como diria Freud, sai do estágio dos "sofrimentos paralisantes" para viver os infortúnios normais da vida!

Comentários

  1. A psicanálise realmente é revolucionária e necessária na pós-modernidade em que vivemos. Embora percebamos um "boom" de demanda por terapias, suas palavras nos lembram que ela pode ser preterida. Será preterida na medida em que nos conscientizarmos de nossa liberdade, de nossa liberdade (ou condenação) à escolha. Somos seres deliberativos. Estamos escolhendo a todo momento, queiramos nós ou não. Fica claro aqui que recorro à filosofia existencialista iniciada por Nietzsche e desenvolvida ao longo de todo os déco XX (nos atingindo no XXI). Somos seres deliberativos, apesar de nossa inconsciência essencial. Daí,cuidar dos males da alma (sem nenhuma contação religiosa) é cuidar de nossa essência de liberdade,aliada à inexorável condição de responsabilidade. Em minha interpretação, não vejo escolhas "certas". Vejo puramente escolhas. Talvez o grande desafio seja suportar essa condição inexorável do humano que é a liberdade. A filosofia existencialista ateísta de Sartre me ajuda a suportar a "leveza" dessa liberdade,pois não há escolhas "certas" ou "erradas": há simplesmente escolhas. Evidentemente deixo aqui a proposta do avassalador romance de Milan Kundera ("A insustentável leveza do ser") como epígrafe para nossos posteriores diálogos. Um grande e carinhoso abraço meu velho amigo! Obrigado por compartilhar seus móbiles da existência e permitir que eu reflita sobre os meus.

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