Permissão para xingar.....



Sou apaixonado por futebol! Apaixonado pelo meu time, o Palmeiras. Sou xiita! Xingo, defendo, brigo, provoco, choro, vibro, enfim, vivo um manancial de emoções com isso. Em derrotas e vitórias! Aliás, ambas são valiosíssimas para o teatro da vida. Há quem diga que é bobagem. Perda de tempo. No meu caso é incurável! E levo a sério. Me identifico. Descobri que é um espaço de amor com meu pai, que me carregou pro estádio há mais de 30 anos pela primeira vez. Ele era rígido! De poucas palavras. Quase sempre secas, mas demasiadamente seguras. O futebol foi o melhor espaço que encontrei para amá-lo. Para segui-lo.  Para saber de sua origem, de sua gente. Sua forma de educar era dura, mas muito organizadora. Era fácil saber o que era permitido, e o que não era. Bastava um olhar de reprovação. Bastava um gesto de permissão. Poucas palavras, muito ensinamento! De sua forma, um imigrante italiano, um homem de seu tempo. Lembro o primeiro jogo que fomos juntos, um Palmeiras x Vasco no começo dos anos 80, num sábado à noite, com bastante gente. Quando se é pequeno tudo parece maior. A luz dos refletores explodindo no verde do gramado, a chegada barulhenta da torcida, o campo enorme, a atmosfera de "guerra". Aquilo era mágico demais para mim. Mas o que lembro, em especial, era a quantidade de "palavrões" que eram ditos com os lances da partida. Xingamentos fortes! Palavras sujas e pesadas, ditas a todo tempo. Muitas eu nunca tinha ouvido. A cada insatisfação do torcedor, era atirado a uma nova gramática. Aquilo me assustou. Mas me encantou mais! Era primeira vez que via um ambiente permissivo regido por outras regras. Não falávamos palavrões em casa. Aliás, o pouco que falávamos com ele era cheio de censura. Para agradá-lo. Para não aborrecê-lo!  Mas em meio à fúria da torcida, e uma profusão de palavrões fui, como sempre, procurar seu olhar orientador. Fora um olhar, dessa vez, permissivo. Como dissesse "Aqui isso pode!". Foi mágico. Percebia que havia uma vida muito mais interessante e plena fora de casa. Onde era possível xingar. Onde era possível amar...... 



Comentários

  1. Belo texto rapaz !!... esse diálogo silencioso (e licensioso) entre pai e filho foi muito bem captado pelas suas palavras !

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