Descomplicando complexos e gatos......



Uma das contribuições de Lacan foi aperfeiçoar o "Complexo de Édipo", a partir de uma sábia releitura de Freud.  Mas  é preciso sublinhar a palavra "complexo" e seus equívocos. Não é complexo de "complexado", e tampouco de "ser complicado".  É complexo como rede, um emaranhado articulado de informações relativas à constituição do sujeito que se inseriu na família,  na sociedade e na cultura. E esse "conteúdo", prévio e dinâmico, dialogará com os acontecimento da vida gerando consequências singulares e determinando o psiquismo de cada um. Relembremos  o estudo de Jung e Breuler. Faz-se uma indução associativa dizendo palavras para participantes da pesquisa. Pai, mãe, cachorro, casamento, sexo, mar, etc. A reação narrativa das pessoas pouco tem a ver com o significado objetivo dessas coisas. E sim com a relação  subjetiva do que representam esses objetos na história de cada um.  Exemplo:  duas irmãs presenciam a violência do Pai com um gatinho de estimação. Uma, muito traumatizada, passará a responder com sofrimento toda vez que o significante "gato" se apresentar, implícita ou explicitamente, em alguma situação. A outra que não registrou tão bem na consciência a cena, passará a odiar gatos, numa clara identificação com o pai. Ou seja, o acontecimento tem tanta importância para o psiquismo como o conteúdo prévio alojado no consciente ou inconsciente. Sonhar é um ótimo exemplo.  As situações do cotidiano se conectam com conteúdos que estão recalcados no inconsciente. Uma mulher com a sexualidade reprimida  luta contra a atração por um professor, à noite tem um sonho erótico com ele porque sonhar é um ato psíquico onde a censura cede. Não é um ato de fé, portanto, acreditar nessa "estrutura" que dita o psiquismo  - por isso a ideia de "dominar os pensamentos" é bastante ingênua.  É testemunho clínico. Voltando aos gatos, já que há dois gatos, um para uma e outro para outra . Enquanto ambas não voltarem de alguma maneira à cena reatualizando o significante 'gato" em suas experiências com o pai (que significa literalmente fazer alguma coisa sobre isso) , os sintomas poderão permanecer. Ou seja, é justamente aquilo que não queremos falar, que temos que falar!

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