Lidando com os desejos...
Quando Freud fala sobre as
pulsões propõe algo radical. O homem é um acidente da natureza, temos algo
muito além dos instintos, podemos dar nome às coisas, o que torna nosso mundo
muito mais interessante e perigoso. Ou seja, as sensações que derivam das possibilidades
do corpo são registradas numa gramática própria. E o sentido do que se diz está
num plano superior do que é verdadeiro ou falso. É mais valioso! Porque afirma
a necessidade de figurar o mundo interno radicalmente singular de cada um. Como
escutar de alguém que “a grama é vermelha", proposição ilógica e absurda,
mas que acusa uma intenção afetiva de quem fala.
Freud gostava de usar sistemas
pra enquadrar o que inventava, utilizava termos hidráulicos, da economia
(investimento libidinal, desinvestimento, bloqueio das pulsões), topologia
(tópicas) e etc. Por exemplo, a ideia fundamental de recalque,
Verdrängung em alemão, algo como "força que bloqueia a
pressão", transmite a ideia que intencionalmente (e de forma inconsciente)
bloqueamos/censuramos alguma força interna, que poderia ser atendida nos termos
de uma vontade psicológica. E essa operação de "bloqueio" gera seus
derivados, que aparecem em sonhos, lapsos e, no pior (ou melhor) dos casos, em
sintomas patológicos. Isso é interessante porque impõe a necessidade de
desenvolvermos estratégias pra lidar com a energia disponível desse
"aparelho humano". O de equilibrar um lado permissivo de atender
parte das demandas internas (prazeres do corpo), renunciar outra parte (em nome
da cultura, em prol de quem amamos, etc.) e sublimar outra, que significa
renunciar o que não é possível, optando por uma realização substituta, essa bem
mais trabalhosa (não posso "devorar" uma pizza, um corpo, mas
"devoro" um livro). Capiche?
Umberto, na sua opinião o que é melhor, você substituir o seu desejo por uma realização substituta em prol da melhor conduta "da sociedade " ou se arriscar e não se reprimir?
ResponderExcluirOi Ca Coelho! Penso que é uma difícil resposta. Porque nunca pode ser tratada no atacado, mas no varejo da vida afetiva de cada um. Pensando em economia psíquica, ambas têm custo e retorno de alocação de energia. É preciso elaborar os ganhos e consequências. Dependendo o quão caro, há momentos que é necessário assumir riscos e não se "curvar" ao modelo (lembrando que esse modelo é sempre interno), e há vezes que devemos fazer renuncias que em nome da cultura, de alguns valores que acreditamos, de pessoas que amamos, etc. Espero ter ajudado!
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