A dor: perda do inaudito, do invisível e do imaterial.


É difícil ser didático com alguns conceitos de Psicanálise, e gosto especialmente da complexidade
do Lacan que retorna à Freud e nos brinda com algo genial: é a linguagem que permite que nos
reconheçamos como sujeitos. Ou seja, está na linguagem o suporte de um “significante”
(uma ideia de si, por exemplo) que formula, a partir da interação com o outro, a imagem de si,
o lugar que ocupamos, uma localização na cultura, etc.
Nesse contexto, o sofrimento seria um prejuízo definido pelo fato de que o sujeito e o corpo estariam
privados de suas metas: deslocarem-se na fala e na ação. Ai vem a parte subversiva que pra mim
é fascinante,  a “dor da alma” seria o efeito da perda do inaudito, do invisível e do imaterial.
Ou seja, haveria um “real” além do que é dito, do que é visto e do que é materializado que bloqueado
de sua relação com o sujeito deflagraria toda ordem de sintomas.
Um exemplo pra clarificar: admitamos um sofrimento quando a imagem do corpo cessa de
ser “invisibilizada” pela fala que tem o poder de memória do“além da imagem”.
O sujeito, então, privado de sua relação com esse “invisível” vê-se exilado, restrito ao limite insuportável de sua imagem. Não parece óbvio quando notamos dramas corriqueiros do nosso tempo? Pessoas perturbadas com a imagem de um corpo gordo demais, num corpo pequeno demais, etc.?
Exiladas (bloqueadas!) do dualismo além da imagem?

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